Solar 1 – O Futuro Solar no Brasil e o Combate às Mudanças Climáticas
Por Dal Marcondes, para a Envolverde*
O Brasil já é o 13º país no mundo em geração fotovoltaica e, com a grande insolação em todo o território, tem um potencial incrível para continuar a crescer em uma modalidade de energia limpa. Entre as fontes convencionais a energia solar está em 5º lugar no país, logo atrás da energia gerada por biomassa, que vem na 4ª posição. Contudo, o ritmo de crescimento faz prever que logo subirá mais um degrau nesse ranking. Na primeira edição dos Diálogos “O Futuro é Solar, promovido pelo Instituto Envolverde, com apoio da Umapaz – Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz -, com apoio da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o diálogo foi sobre a contribuição da geração fotovoltaica para a redução dos impactos da geração elétrica nas mudanças climáticas. Para isso o Instituto Envolverde reuniu Meire Fonseca Aparecida de Abreu, diretora da CEA/UMAPAZ, Carlos Rittl, fellow do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade de Potsdam (Alemanha) e por mais de 6 anos Secretário Executivo do Observatório do Clima no Brasil, Christian Cecchini, especialista técnico regulatório da ABSOLAR e Amanda Ohara, engenheira química graduada pela Unicamp e mestre em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ.
Nos últimos anos a geração fotovoltaica apresentou grandes avanços no Brasil. Na cidade de São Paulo, por exemplo, há diversas iniciativas de geração distribuída (quando as placas solares são colocadas para abastecer uma unidade, seja casa, escola ou comércios) em escolas e prédios públicos. A cidade tem um plano de combate às mudanças climáticas, o PlanClimaSP, que prevê a expansão do uso da energia solar por parques públicos e outras áreas da administração pública, explica Meire Fonseca Aparecida de Abreu, da UMAPAZ. Ela lembra que a cidade, através da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, tem um forte compromisso em ser parte das soluções dos desafios climáticos e trabalha para isso em várias frentes.
A geração solar é uma oportunidade para o Brasil como um importante polo de inovação e de geração de empregos qualificados. O representante da ABSOLAR, Christian Cecchini, apresentou dados mostrando que a geração fotovoltaica tem se tornado cada vez mais competitiva em comparação às outras modalidades de geração. Ele lembra que, a partir de 2017, a participação solar nos leilões de geração elétrica está crescendo e ganhando competitividade. “É importante reconhecer esse ganho, porque teremos de quadruplicar a geração atual até 2050 se quisermos alcançar as metas de redução de emissões em geração elétricas”. O especialista prevê que o Brasil deverá ter na metade deste século um terço de toda sua energia vinda do sol, com cerca de 121GW instalados e operacionais até lá.
É importante pontuar que os problemas causados pelas mudanças climáticas não estão mais no futuro, eles já fazem parte do dia a dia no mundo e o Brasil não está fora do mapa de tragédias. O pesquisador Carlos Ritll aponta a necessidade de acelerar o passo da ação climática, “isso se impõe na vida das comunidades, principalmente as mais pobres e vulneráveis, como vimos em Recife”. Ele lembrou que. nos primeiros cinco meses do ano de 2022, o Brasil perdeu mais de 450 vidas apenas por chuva. Isso representa em torno 20% das mortes ocorridas na última década causadas por questões climáticas. No entanto o Brasil ainda tem poucas leis de incentivo à geração limpa de energia e ainda há muitos subsídios aos combustíveis fósseis. Um exemplo é a dependência que os sistemas de transporte de carga e passageiros ainda têm do diesel. Ritll acredita que é necessário cuidar para que as leis ambientais no país não sejam mais afrouxadas, de forma a empurrar para a frente as metas de redução de emissões de gases estufa ou de alcançar o desmatamento zero nos biomas brasileiros.
Além das questões de caráter social e ambiental o Brasil vive uma realidade energética preocupante. Desde o início deste século o sistema de geração hídrica vem mostrando limites. Segundo Amanda Ohara, do Instituto Clima e Sociedade, a crise hídrica tem se intensificado e os reservatórios das hidrelétricas já expõem suas fragilidades.” Em 2020, as hidroelétricas corresponderam a 62% do total gerado no país e ano passado esse valor caiu para 55%. Se a gente não se preparar para esse contexto onde a incerteza sobre as chuvas será cada vez mais crescente, podemos afetar a nossa economia de forma bastante perversa”, diz a pesquisadora.
O tamanho continental do Brasil e as muitas regiões ainda carentes de infraestrutura de geração e de redes de eletricidade leva à constatação de que não se pode apostar em soluções únicas. A geração hidrelétrica está em seu limite e com um coeficiente a mais de incerteza vindo das mudanças nos regimes de chuva em todo o país. Tanto para a geração concentrada de solar, como vem sendo feito em Minas Gerais, que está bastante avançado em plantas de geração fotovoltaica, como em geração distribuída, que pode ser uma alternativa para as regiões remotas e fora do sistema principal de distribuição do país, a energia solar é uma alternativa de custo compatível. O país, no entanto, precisa avançar mais rapidamente em leis e regulações que ampliem a segurança dos investimentos e o acesso a recursos para o fortalecimento desse mercado. (#Envolverde)
*Com apoio de Paolla Yoshie